quarta-feira, 19 de maio de 2010

Experiências De Imigração

Desde sempre que equacionei a possibilidade de ir trabalhar para outro país durante um tempo. Sempre senti esse apelo e assim que me foi oportuno, tentei concretizá-lo. Após ter finalizado o meu curso em ciências farmacêuticas, enviei propostas de trabalho para varias faculdades e hospitais em Itália. Fui aceite num hospital em Turim e iniciei a minha actividade em Dezembro de 1994. Pensei que por ser um país latino, com costumes e valores semelhantes aos nossos, teria facilidade na integração. Por outro lado, sendo um país desenvolvido, que pertencia e pertence ao G8 (grupo de países desenvolvidos e industrializados) poderia proporcionar-me experiências e aquisição de saber que são inerentes ao avanço tecnológico. Poderia ainda contactar com novas áreas da minha profissão que talvez não estivessem tão desenvolvidas no meu país.
Durante o tempo de faculdade tinha lido bastantes artigos elaborados por professores italianos de farmacologia e sabia que o papel do farmacêutico era considerado de uma forma diferente, ou seja, era dado mais relevância ao que podíamos fazer integrados numa equipa prestadora de cuidados de saúde.
Escolhi-o por ser um país bonito, com gente bonita, suficientemente semelhante ao nosso e razoavelmente diferente em muitos aspectos, tal como referi anteriormente.
Enviei propostas de trabalho para faculdades e hospitais. Aguardei as respostas e depois escolhi o local que mais me parecia adequado aos meus propósitos.
Desempenhei funções de farmacêutica hospitalar num hospital distrital em Turim, no norte de Itália. Gostava bastante do ambiente de trabalho que havia na farmácia do hospital e de uma forma geral as pessoas eram gentis para comigo. O local era agradável, o hospital tinha bastantes valências e condições de trabalho, no entanto Turim não era à partida a cidade em Itália que mais me apaixonava. Conhecia Roma e esse era o meu local preferido, mas não recebi nenhuma resposta dessa cidade.
A comida italiana agrada a todos de uma forma geral e a mim particularmente. Por isso não tive qualquer dificuldade em adaptar-me e embora tenha sentido diferença entre a nossa alimentação e a deles, tal não representou nenhum problema.
As diferenças principais foram ao nível da quantidade de hidratos de carbono e na ausência de peixe. Claro que ao fim de algum tempo, já estava um pouco cansada de massas e pizzas, mas como estava numa casa alugada, pude começar a cozinhar aquilo que me era mais agradável.
Em relação ao custo de vida, este era mais dispendioso do que o nosso. Turim é uma cidade no norte de Itália, demasiado perto de Milão, logo tudo era caro e notei grandes diferenças no custo dos bens essenciais. Neste aspecto Portugal era mais vantajoso e agradável.
Não tive problema na aquisição de autorização para permanecer e trabalhar em Itália e consequentemente a inscrição no sistema nacional de saúde não foi difícil.
Em relação à segurança social, nunca me inscrevi mas sabia que o hospital descontava por mim.
Quando fui para Itália não sabia escrever italiano, apenas sabia falar e compreendia a escrita quando lia. Aprendi a escrever durante o tempo em que estive a trabalhar, mas a língua falada foi sempre o meu ponto forte quando comparado com a escrita. Lia livros em italiano e treinava a escrita com os meus colegas do hospital.
Consegui ter bastantes amigos e inclusivamente senti-me integrada num grupo de pessoas da minha idade que não trabalhava comigo. Fui conhecendo cada vez mais pessoas através de algumas actividades que tinha fora do horário de trabalho, nomeadamente ginástica, solário e passeios pelos monumentos. É claro que através do hospital acabei por conhecer amigos e amigas que mantive durante o tempo em que estive a trabalhar e até mesmo depois de regressar a Portugal
As pessoas são mais alegres mas não são tão puras como em Portugal. São mais desconfiadas e demoram um pouco até “abrirem a porta da sua casa”.
Itália é um país rico culturalmente, onde há muita opulência e marcas de todas as épocas históricas.
A forma de estar é semelhante à nossa, somos ambos países latinos, mas em Turim nota-se uma grande influência de França e isso faz com que não exista aquele clima latino como verificamos no sul do país.
O clima era frio, nevava e chovia bastante. Este foi talvez o aspecto que me perturbou durante a estada em Turim. Não estava habituada à neve e à temperatura negativa. O sol escasseava e isso era motivo de alguma depressão que eu tentava tratar com passeios ao campo sempre que não chovia. Acabei por me habituar à neve e comecei a fazer ski.
Em Itália tive a oportunidade de trabalhar num hospital, na área de farmácia e de adquirir conhecimentos práticos inerentes à minha profissão. Sabia que era fácil mediante uma auto-proposta e isso era quase impossível no nosso país.
Em Portugal é difícil obter vaga num hospital do Sistema Nacional de Saúde e é necessário um concurso público prévio.
Naquela época a iniciativa privada no campo da saúde era limitada e não existiam hospitais pertencentes a grupos económicos que pudessem tratar deste processo de uma forma simples e desburocratizada. Sendo assim, a possibilidade de colaborar durante um período na dinâmica da farmácia hospitalar só seria exequível fora de Portugal.




Testemunho de uma pessoa querida e importante na minha vida que emigrou. Aqui ficam alguns promenores da sua experiência fora do seu pais de origem.

Sem comentários:

Enviar um comentário